terça-feira, 13 de outubro de 2009

As grandes viradas...


Rubinho está certo em esquecer a matemática e correr para a vitória, tanto em Interlagos como em Abu-Dhabi, e só fazer as contas quando a bandeira quadriculada baixar à sua frente. É uma atitude algébrica chamada, pelos versados na matéria, de “Equação de congruência”: ou seja: “Relação de congruência que se estabelece entre incógnitas, ou entre uma incógnita e uma constante”. Entenderam?

Resumindo, Rubinho Barrichello terá que ser, aritmeticamente incongruente para crer no título. Mas isso não será novidade, pois há bons exemplos de viradas matemáticas nas decisões dos títulos na história da Fórmula 1. Eis alguns casos:

Os azares do Leão da Metro

Talvez Nigel Mansell nem soubesse, mas seu apelido na mídia inglesa, até ganhar o título de 1992, era “Leão da Metro”. Uma alusão ao leão dos Estúdios da Metro, que aparece no início do filme e depois desaparece do espetáculo. Foi uma forma disfarçada dos seus conterrâneos para não consagrá-lo como um piloto azarado, depois das desastrosas derrotas nas decisões dos campeonatos de 1986, 1987 e 1991.

A decisão de 1986 foi a mais dramática. Mansell tinha tudo para ser campeão no GP da Austrália. Largou na pole position e tinha 70 pontos, contra 64 de Alain Prost e 63 de Nelson Piquet. Portanto, bastava ao Leão um simples quarto lugar para ganhar o título mundial, sem se preocupar com a posição dos rivais.
Mansell, ao contrário do seu estilo combativo, fez uma corrida mansa, de chegada, mantendo-se num estratégico quarto lugar. Na 57ª das 82 voltas, ele passou para terceiro e desfilava para o título sem ameaças, mas dois pneus furados, ambos direitos traseiros, mudaram a história do GP da Austrália e o destino do campeonato.
O pneu do Williams-Honda de Mansell furou na 63ª das 82 voltas, 100 metros após a entrada dos boxes, sendo impossível ao Leão vencer uma volta completa pelos 3,780 quilômetros do circuito australiano para fazer o pit stop. Ele bem que tentou, mas o que se viu foi a roda do Williams arrancar faísca do asfalto, na inglória tentativa do Leão de derrotar a má sorte. Já o afortunado Prost teve o pneu do McLaren furado 200 metros antes dos boxes, permitindo ao francês trocá-lo e voltar à pista para ganhar o bicampeonato.

Farina, de azarão a primeiro campeão

Juan Manuel Fangio, Luigi Fagioli e Giuseppe Farina – o famoso trio dos três efes da Alfa Romeo – chegaram ao GP da Itália de 1950, o último da primeira temporada da F-1, em condições matemáticas de ganhar o título. Fangio, o favorito, tinha 26 pontos, Fagioli 24 e Farina, o azarão, com 22, precisava ganhar e torcer para que nenhum dos adversários chegasse em segundo.

Foi a primeira decisão da história da Fórmula 1 na Itália e logo no autódromo de Monza, que virou um caldeirão superlotado e dividido; metade torcendo pelas Ferrari de Alberto Ascari e Dorino Serafini e outra e pelos patrícios Farina e Fagioli, mas todos secando o Fangio, o pole postion.

O argentino partiu possesso. Bateu o recorde da pista na quinta volta e repicou a façanha em outras três. Porém na 34ª das 80 voltas da corrida, o motor da sua Alfa 159 1.5, estourou. Farina assumiu a ponta, com Fagioli em 3º.

Luigi Fagioli lutou desesperadamente, mas “mesmo acelerando com os dois pés” - como declarou depois da prova – não conseguiu ultrapassar a Ferrari V12 4,5 litros, de Alberto Ascari, na luta pelo segundo lugar. A colocação, que lhe daria o título.
Era tudo de que Giuseppe “Nino” Farina precisava. Depois de 504 quilômetros e 2h51min ele, o azarão, venceu o grande prêmio e tornou-se, em 3 de setembro de 1950, o primeiro grande campeão da Fórmula 1 e herói da Itália.

Maracutaia dá título de 1958 a Mike Hawthorn

Mike Hawthorn foi o primeiro campeão inglês de Fórmula 1, mas sua façanha ficou marcada pela interferência do boxe da Ferrari. Quando o circo acampou em Monza, para o penúltimo grande prêmio de 1958, Hawthorn disputava o título com o conterrâneo Stirling Moss e a contagem estava 33 a 30 para o adversário. Mas, na corrida, o norte-americano Phil Hill, segundo piloto da Ferrari, era quem brigava pela vitória contra Tony Brooks, da Vanwall. E ai o boxe interferiu e ordenou que Hill cedesse o segundo lugar a Hawthorn, terceiro naquela altura da prova. Ele obedeceu, trocou de posição e Hawthorn que, com o segundo lugar e sem suor, folgou 6 pontos de Moss.
No GP seguinte, disputado em Marrocos, repetiu-se o expediente. Outra vez Phil Hill estava em segundo e, dessa vez, pronto para ultrapassar o Vanwall de Stirling Moss e ganhar a liderança, quando o boxe mandou ele aliviar e deixar Hawthorn ultrapassá-lo.
Mesmo com a vitória de Moss, Mike Hawthorn sagrou-se campeão, por um pontinho – 42 a 41. De prêmio, o obediente Phil Hill ganhou um contrato de três anos na Ferrari, escuderia pela qual foi campeão mundial – sem maracutaia – em 1961.

John Surtees, campeão em segundo. Graham Hill, vice em primeiro

Muitas corridas, e até títulos mundiais da Fórmula 1, tiveram decisões confusas e nem sempre desfechos justos. O do GP do México de 1964, por exemplo, está registrado como o grande prêmio do título mundial do inglês John Surtees, com a Ferrari 158. Mas, 45 anos depois, ainda existe quem conteste aquela conquista.
Era a última corrida da temporada, na qual Graham Hill, com 39 pontos, John Surtees, com 34, e Jim Clark, com 30, tinham chances matemáticas de ganhar o título mundial. Hill largou em sexto, Surtees em quarto e Clark na pole position. Mas foi o italiano Lorenzo Bandini, segundo piloto da Ferrari e terceiro no grid, quem acabou decidindo o grande prêmio e o campeonato.

Na 62ª das 65 voltas da corrida, Bandini, numa manobra suspeita, fechou o BRM de Hill, obrigando-o a sair da pista para evitar a colisão. O inglês retornou à prova em 11º, depois de perder uma volta.

Duas voltas depois, Bandini obstruiu temerariamente a passagem de Jim Clark, ao colocar o seu carro entre o Lotus do escocês e a Ferrari de Surtees, permitindo a seu parceiro de equipe receber a bandeirada em segundo, atrás de Dan Gurney, o vencedor com o Brabham-Climax. Essas manobras garantiram os títulos de piloto e de construtores à Ferrari.

Para a estatística ficou registrado John Surtees como o campeão e Graham Hill vice. A ironia é que Hill marcou com 41 pontos contra 40 de Surtees. Mas, como o regulamento daquele ano só permitia ao piloto computar os seis melhores resultados, das 10 corridas do calendário, Hill teve de abandonar 2 pontos, do quinto lugar conquistado no GP da Bélgica, contabilizando apenas 39 positivos.
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Wofgang von Trips - A morte dá a virada

Von Trips foi um conde alemão que competiu na F-1 com o pseudônimo de Graf Berghe, para se esconder da oposição familiar, totalmente contra as corridas de automóveis. Ele competiu em 27 grandes prêmios pela Ferrari, entre 1957 a 1961, e foi o primeiro piloto germânico a vencer grandes prêmios – quatro no total – e a chegar à decisão de um título mundial nos primeiros 45 anos da categoria.

Von Trips (1928-1961) morreu em um acidente no GP da Itália de 1961, em Monza, quando disputava o título com o norte-americano Phil Hill. Foi na segunda volta que a Ferrari do alemão enroscou no Lotus de Jim Clark e voou contra o público, matando 14 pessoas, além do piloto.

Apesar da tragédia, houve festa em Monza naquele 10 de setembro de 1961. A Ferrari ganhou os títulos de Construtores e o de Pilotos com Phil Hill que, com o 4º lugar, naquela corrida, ficou 1 ponto à frente e Von Trips (34 a 33). Já a Alemanha teve de aguardar mais 33 anos, para Michael Schumacher nascer e ter um campeão mundial de F-1.

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